ONU News lança podcast sobre violência contra mulheres na política

O especial destaca entrevistas com a ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, a jurista e professora da PUC-SP, Silvia Pimentel, co-autora da Carta das Mulheres, de 1988, e a ex-presidente da Assembleia Geral e ex-ministra de Relações Exteriores, e da Defesa do Equador, María Fernanda Espinosa.

“Os diversos casos de ataques às mulheres políticas, democraticamente eleitas, tanto na internet como fora dela, chamaram a atenção da nossa equipe”, afirmou a editora-chefe da ONU News, Monica Grayley.

Quatro episódios

No primeiro episódio, as jornalistas Mayra Lopes e Ana Paula Loureiro entrevistam a jurista Silvia Pimentel.

Com uma longa carreira em direitos da mulher, igualdade de gênero e pautas feministas no Brasil e nas Nações Unidas, a professora da PUC-SP avaliou o cenário da política no Brasil e lembrou quando ela mesma foi atacada fisicamente, em 1982, quando se candidatou a deputada federal.

“Numa cidade do estado de São Paulo, eu estava no palanque e fui empurrada pela liderança política daquela região. Quase fui derrubada de uma altura de dois metros. Foi uma ação não apenas machista, mas quase criminosa”, relevou Silvia Pimentel.

A equipe da ONU News ouviu também a ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff. No podcast, a ex-chefe de Estado declara ter sido vítima do machismo, um traço marcante na política do país.

“Eu sofri os preconceitos impostos pela misoginia a todas as mulheres brasileiras que ousam lutar pela igualdade do meu país ou lutar contra toda a exploração, toda a trajetória de exploração que começa no Brasil com a escravidão e passa por todo um processo que chega nos dias atuais”, destacou.

Uma outra mulher que teve que enfrentar violência política e forte oposição em meios dominados por homens foi a ex-presidente da Assembleia Geral da ONU, María Fernanda Espinosa. A primeira latino-americana e caribenha a se tornar presidente do órgão da ONU e até agora a quarta mulher apesar a presidir a Casa, em mais de 77 anos de história. Espinosa falou à ONU News sobre que é preciso continuar lutando por espaços nas esferas de poder.

“Vemos mulheres candidatas que são tratadas de maneira especialmente dura pela opinião pública. Mas acredito temos a inteligência, força e experiência para lutar pelos espaços que merecemos”, avalia.

Desde que María Fernanda deixou o cargo em 2019, já foram eleitos quatro homens, consecutivamente, para a presidência da Assembleia Geral.

Ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff

Dados da participação feminina na política

Segundo o levantamento da União Interparlamentar, em todo o mundo, as mulheres ocupam apenas 25,5% dos assentos. Em cargos ministeriais, pouco mais de 21% das mulheres fazem parte de governos. No comando do Executivo, elas possuem ainda menos representatividade: em 2021, 5,9% dos chefes de Estado eram mulheres e 6,7% chefes de Governo.

O sufrágio feminino no Brasil aconteceu em 1932, com um decreto durante o governo de Getúlio Vargas. Em Portugal, uma lei autorizando mulheres a votar foi publicada em 1931, mas apenas em 1976 que a legislação portuguesa aprovou o sufrágio universal.

Um dos países que mais tardou a inserir o direito do voto feminino em sua constituição foi a Suíça, em 1971. São mais de 50 anos de atraso em comparação com outros países europeus como Alemanha e Áustria.

Ex-presidente da Assembleia Geral da ONU, María Fernanda Espinosa

Ex-presidente da Assembleia Geral da ONU, María Fernanda Espinosa

Paridade de gênero

O podcast ainda conta com depoimentos de outras mulheres que conversaram com a equipe da ONU News no último ano. A coordenadora da ONG Criola, Lucia Xavier, e a fundadora do Instituto Igarapé, Ilona Szabó, também juntam suas vozes ao debate.

“Com este especial, buscamos responder por que a presença das mulheres – e talvez a diversidade de forma geral – ainda incomoda tanto nas esferas de poder. Percebemos que a resposta vem em diversas camadas e foi interessante observar como cada uma das entrevistadas complementava a outra”, afirmou a jornalista Mayra Lopes.

“Infelizmente, uma visão comum das entrevistadas é que ainda é preciso muito trabalho para conquistarmos a paridade de gênero. A parte boa é que muitas mulheres e feministas estão dispostas a seguir trilhando esse caminho para um futuro mais igual”, declarou Ana Paula Loureiro.

A igualdade de gênero é o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 5 da Agenda 2030. O podcast “Nossa Voz” estreia neste 10 de dezembro ao meio-dia, horário de Brasília, em todas as plataformas da ONU News.