Grama sintética causa mais lesões do que a natural? | treinos

Todos os 18 clubes da primeira divisão do campeonato holandês de futebol serão obrigados a jogar em grama natural ao final das duas próximas temporadas, segundo decisão tomada na última segunda-feira (5) pela liga holandesa. A mudança será gradual, o protocolo para a temporada 2025/2026 ainda aceitará campo híbrido. Mas por que a grama sintética entrou na berlinda? Ela provoca mais lesões?

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Os riscos de lesão são maiores nas praticas esportivas em grama sintética — Foto: Istock Getty Images Os riscos de lesão são maiores nas praticas esportivas em grama sintética — Foto: Istock Getty Images

Desde que a FIFA, em 2001, passou a admitir esses tapetes, que imitam o campo natural, alguns estádios utilizados por clubes da série A do Campeonato Brasileiro aderiram a alternativa: Arena da Baixada ( do Athletico Paranaense) foi o primeiro, seguido por Arena Palmeiras, Arena Corinthians e por último o Estádio Nilton Santos, o Engenhão, onde o Botafogo tem um contrato de concessão. Atualmente, o alvinegro carioca lidera o Brasileirão e está invicto jogando em casa. Além disso, há campinhos de gramas sintéticos espalhados por todo o Brasil, em clubes frequentados por atletas amadores, incluindo peladeiros de fim de semana.

As diferenças do comportamento da bola no gramado artificial podem ser entendidos como trunfo para quem está mais adaptado ao estilo de jogo. Mas pode haver consequências em jogar bola nesse piso diferente, que é mais duro. Para o médico fisiologista do exercício, Turibio Barros, com passagens pelo São Paulo Futebol Clube e Esporte Clube Pinheiros, os campos sintéticos oferecem, sim, maiores riscos de lesão para quem joga neles.

– Fica a impressão de que está existindo um número maior de lesões no gramado sintético, e é uma impressão (confirmada) por estudos publicados – disse Turibio sobre a maior incidência de lesões nos gramados sintéticos.

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O jogo muda completamente no piso sintético, que é mais duro — Foto: Istock Getty Images O jogo muda completamente no piso sintético, que é mais duro — Foto: Istock Getty Images

Estudo publicado pela revista científica Sports Medicine, em 2011, corrobora a fala do médico. Segundo a publicação há maior incidência de contusões no tornozelo, principalmente, e de lesões consideradas graves em esportes praticados em grama sintética. O estudo também aponta a maior número de lesões entre as mulheres:

– Há uma constatação que parece ser mais prevalente de haver maior incidência, inclusive no futebol feminino – explicou o médico.

Em outro estudo americano, dados coletados em 26 escolas de ensino médio, em 2018, foram analisados ​​para comparar a incidência de lesões em grama artificial versus grama natural, com base principalmente no futebol americano escolar. Os cientistas concluíram que os atletas amadores tinham 58% mais chances de sofrer uma lesão de membros inferiores, membros superiores e tronco durante atividade atlética em grama artificial.

  1. Tornozelos
  2. Joelhos
  3. Músculos posteriores das coxas

– Não tenho nenhuma dúvida que as áreas mais afetadas são tornozelo e joelho. Agora, muitas vezes, há também influência negativa no posterior da coxa pela questão da frenagem (no piso duro) – explica Turibio.

Com a popularização do gramado sintético, graças ao baixo custo de manutenção, é possível encontrar esses tapetes em muitos campinhos de praça e escolinhas de futebol, servindo de piso para crianças no Brasil todo jogarem bola. Por isso, fica um alerta: durante a infância o corpo é como uma máquina novinha, zero-bala, o que dificulta a percepção dos impactos das peladas jogadas em gramados sintéticos no corpo. É o que afirma o treinador Fernando Vanucci:

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A relação custo-benefício fez com que os campos sintéticos se proliferassem no Brasil e no mundo — Foto: Istock Getty Images A relação custo-benefício fez com que os campos sintéticos se proliferassem no Brasil e no mundo — Foto: Istock Getty Images

– Sobre lesionar mais, quando a gente é criança, jovem, adolescente, eu acredito que todos acabam se adaptando, se acostumando. Eu acredito que a conta pode vir lá na frente. A gente sente a diferença quando adulto, acostumado ao campo de grama natural. Quando se joga num campo de grama sintética, no dia seguinte surge dor lombar, no joelho, tornozelo. É um campo mais duro que o natural – explica o treinador, que conclui se usando de exemplo:

– O adulto que não está com a musculatura adaptada, preparada, sente muita diferença. Eu mesmo no dia que jogo uma pelada na grama sintética, fico, às vezes, dois, três dias dolorido na lombar e nos joelhos. Isso, mesmo trabalhando com bola e dando aula todos os dias na grama sintética. Então, essa conta não vem hoje, né? Pode ser que um dia venha para esses jovens, essas crianças.

Fontes:
Turibio Barros
é fisiologista do exercício, tendo atuado no São Paulo Futebol Clube e no Esporte Clube Pinheiros.
Fernando Vanucci é coordenador técnico das escolinhas de futebol do Zico