| Foto: Gabriele Bonat/Gazeta do Povo
Diversos especialistas se reuniram, nesta sexta-feira (7), para um debate sobre liberdade e tecnologia. O Instituto de Formação de Líderes (IFL) trouxe, pela primeira vez, o seu Fórum Liberdade e Democracia à capital paranaense. Líderes do setor público e privado estiveram presentes no centro de evento da FIEP para discutir liberdade econômica, o futuro do país e a influência da tecnologia. O ex-deputado federal, Deltan Dallagnol, e o presidente do Grupo GRPCOM, Guilherme Döring Cunha Pereira, falaram aos presentes.
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O evento é consolidado em Porto Alegre, Belo Horizonte, Vitória e São Paulo. A estreia do encontro em Curitiba teve como tema “Liberdade e Tecnologia: uma análise 360”, contou com cinco painéis temáticos ao longo do dia e mais de 20 palestrantes. No ponto central do fórum estavam as discussões sobre a função do Estado e os problemas do sistema político nacional.
“Brasil, o eterno país do futuro”
O primeiro painel contou com a presença do ex-deputado federal, Deltan Dallagnol, discutindo o “Brasil, o eterno país do futuro”. Dallagnol destacou que o responsável pelo avanço do país não é o Estado, mas o povo. “O papel do Estado é criar o ambiente para que isso possa florescer”, disse.
Dallagnol elencou três formas pelas quais, a seu ver, o governo tem dificultado o avanço do país. Um deles é o desenvolvimento de elites estrategistas, os parlamentares eleitos que criam mecanismos de corrupção para assim se perpetuarem no poder. “Engessam as soluções. É o que houve na Lava Jato. Criou-se um fundão bilionário, criação de orçamento secreto para cooptação do parlamento que gera o engessamento da casa política”, afirmou.
Na visão dele, outro ponto crucial neste debate é o enfraquecimento da lei e da liberdade, resultado direto da insegurança e dos abusos jurídicos que estão ocorrendo no país, como decisões abusivas do Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-deputado federal acrescentou que outro problema nacional é a promoção de visão de ideias que dividem a sociedade. “Uma visão determinista que o indivíduo não é responsável pela sua história é uma visão de luta de classes”, lembrou.
Para Dallagnol, as principais transformações que o Brasil necessita são uma efetiva reforma política, candidaturas independentes e uma reforma tributária e administrativa. “Precisamos assumir a responsabilidade sobre nosso país e ela não é do Estado”, ressaltou.
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Resgate de princípios fundamentais
Um dos convidados para o painel que abordou liberdade de expressão foi o presidente do Grupo GRPCOM, Guilherme Döring Cunha Pereira. Ele destacou que é preciso resgatar os princípios fundamentais. “Hoje temos um nível de enfraquecimento estrutural no mundo inteiro. Isso está ligado ao avanço de concepções ligadas ao homem, é uma guerra cultural, e é a mais difícil de ser revertida”, afirmou.
Ele afirmou que, atualmente, há um enfraquecimento estrutural e conjuntural no Brasil. “A liberdade de opinião e a exposição dos fatos têm sido confundidas, o que resulta na restrição da liberdade de expressão. Se não identificarmos claramente o ponto específico que está sendo ferido, teremos poucas armas para reverter essa tendência preocupante”, disse.
“Diante desse cenário, torna-se necessário recuperar as convicções democráticas e o profundo respeito pela liberdade de expressão. A garantia desses princípios fundamentais é essencial para preservar a democracia e fortalecer o país”, completou.
O presidente do Grupo GRPCOM estimulou os participantes do fórum a não desistirem da busca pela liberdade de expressão. “[É preciso] mais pessoas dentro das suas competências com coragem de se manifestar e buscar veículos para se expressar, para que haja resistência com o que está ocorrendo”, complementou.
Agronegócio e o impacto na sociedade
Em outro momento do fórum foram apresentados e discutidos os impactos da tecnologia e da política no agronegócio. Benedito João Gai Neto, sócio proprietário da Agrinvest Commodities, afirmou que é necessária uma menor intervenção do Estado para que o agronegócio possa avançar. “A gente faz a intermediação de negócio com o mundo todo e onde o governo se mete, ele estraga. O agro é forte porque é o setor da economia brasileira que mais se assemelha as melhores economias do mundo, tem mais autonomia”, acrescentou.
Farm to Fork
Outro assunto discutido no painel foi a estratégia Farm to Fork, que tem como objetivo tornar os sistemas alimentares justos, saudáveis e ecológicos, com foco na sustentabilidade e evitar problemas climáticos.
O sócio proprietário da Agrinvest Commodities fez algumas considerações sobre essa estratégia. Um dos objetivos da Farm to Fork é reduzir o uso de pesticidas e ter 25% das terras agrícolas orgânicas. “Isso tem que ser feito sem intervenção, mas de forma natural. Somente na Europa foram produzidos 17 milhões a menos de toneladas de milho por causa da intervenção governamental”, apontou.
“Minha visão é que a Farm to Fork é a solução, mas tem que ser fomentada na parte de inovação e não em intervenção do governo. Temos que fomentar tecnologia. Foi assim que o Brasil passou de problema a solução para o mundo. A Embrapa, por exemplo, é orgulho mundial. Transformou áreas improdutivas em muito produtivas, via tecnologia, como o Cerrado”, ressaltou Gai Neto.
Controle estatal e a tecnologia na economia
O impacto da tecnologia na economia foi outro tema abordado por líderes presentes no 1° Fórum Liberdade e Democracia, com destaque para o controle estatal. Para o mestre em Direito Constitucional Rodrigo Marinho, este controle é uma forma de prender as pessoas.
O economista e diretor da DJL Economia, José Pio Martins, também comentou a temática no debate. Para ele, o bem coletivo é invisível e o governo brasileiro inseriu neste conceito bens que são legalmente públicos, mas que não são economicamente coletivos.
“Por que os Estados se meteram em tantos negócios e em tantas áreas? O mundo virou uma arapuca pelo controle estatal. E o conceito de liberdade está amarrado ao conceito de responsabilidade. Os Estados aproveitam as grandes crises da sociedade para ampliar seu controle. Quando o Estado é chamado a socorrer as sociedades em situação de recessão, ele controla e regula”, evidenciou o economista.
Martins explicou que o governo justifica a intervenção como uma maneira de responsabilidade pública. “Por isso, em regimes totalitários nada melhor que as tragédias. O medo e o apavoramento coletivo são os melhores momentos para o Estado avançar sobre a sociedade. Todo ditador adora uma tragédia. Entre elas, a miséria”, destacou.
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Inteligência artificial e aplicação prática nas cidades
Alguns especialistas em inovação trouxeram ao evento abordagens sobre como a inteligência artificial (AI) pode ser aplicada nas cidades. André Telles, presidente de Smart Cities da Associação Brasileira de Internet das Coisas (ABINC), citou cases de outros países que utilizam a tecnologia para melhorar a gestão das cidades. Um dos casos é em Copenhague, na Dinamarca, que tem sistema de iluminação pública inteligente, com aumento e diminuição de intensidade de acordo com o número de pessoas na rua. Para ele, a IA pode contribuir para uma gestão eficiente nas cidades.
Outro case de sucesso é de reconhecimento facial para segurança com IA, em Londres. “Eles implementaram um sistema para reconhecimento de criminosos que são suspeitos procurados. Aumentou em 70% as prisões relacionadas a crimes graves”, exemplificou.
O presidente da Agência de Curitiba de Desenvolvimento e Inovação, Dario Paixão, comentou sobre o futuro do trabalho com a tecnologia. Segundo Paixão, de 11% a 23% da população perderá seu emprego para robotização e inteligência artificial até 2030. “A tecnologia é um espelho das necessidades humanas, deve gerar trabalho e emprego não destruí-los. O futuro das cidades depende de pensar nas necessidades humanas e esperamos que a tecnologia não substitua as interações humanas”.
O Diretor Acadêmico do Mises Brasil, Adriano Paranaíba, tem ressalvas contra o uso de inteligência artificial pelo poder público. A justificativa de Paranaíba é que o governo pode utilizar a ferramenta da forma como quiser. Dessa forma, por questões éticas, a tecnologia pode não ser uma boa alternativa nas cidades.
“Vigilância em massa, discriminação algorítmica, censura, controle das informações, perfilamento, monitoramento em excesso e eficiência tributária” são alguns dos problemas que o especialista citou. “Eu vejo uma série de problemas com o uso estatal da IA. As cidades podem se beneficiar com a IA se tiver a presença da iniciativa privada, como é o caso de Curitiba”, afirmou Paranaíba.
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