Cotados para disputar as eleições gerais de 2022, presidenciáveis se reuniram neste sábado para discutir o futuro do Brasil e propor soluções para o país sair da crise econômica. Apesar das divergências ideológicas dos respectivos partidos, foram unânimes ao criticar as políticas do governo Jair Bolsonaro.
A Brazil Conference, organizada pelas universidades americanas de Harvard e MIT, colocou no mesmo painel os governadores do PSDB João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), o ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes (PDT), o ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT) e o apresentador Luciano Huck.
Ciro, o primeiro a se manifestar, disse que o mais urgente para o Brasil é estabelecer um método para o seu desenvolvimento. Em referência ao PT, disse que o país fracassou mesmo elegendo por seis vezes um pensamento progressista. Mas foi com Bolsonaro que, segundo ele, “chegamos ao fundo do poço”.
“A Constituição de 1988 anunciou a reinstitucionalização dos costumes democráticos e jamais imaginávamos que essa discussão pudesse voltar com esse governo fascista, genocida e boçal como o de Jair Bolsonaro”, afirmou.
O pedetista mencionou que 130 milhões de pessoas não têm segurança alimentar, que o desemprego é o maior da história e que a dívida galopa para 90% do Produto Interno Bruto (PIB), agravando o déficit de R$ 900 bilhões.
“Todo mundo está perdendo e precisamos remover a insistência em uma modelagem tosca de um falso consenso, para termos um debate plural com novas alternativas, que apresentem concretos projetos nacionais de desenvolvimento, com metas e objetivos bem definidos.”
O governador gaúcho disse que são três os eixos mais urgentes para o Brasil: emprego e renda, educação e meio ambiente. “A gente precisa dar condições para o país gerar emprego. O Brasil se meteu em uma enrascada e perdeu confiança e credibilidade”, afirmou.
Segundo Leite, depois de ter expandido gastos em função da pandemia, o país vai ter de mostrar comprometimento com o equilíbrio fiscal, por meio de uma agenda de privatizações, redução de burocracias e realização de reformas estruturais como a administrativa e a tributária.
O tucano também citou que o Brasil vai precisar contornar uma defasagem na educação em um momento pós-pandemia. Destacou, ainda, a questão ambiental: “Precisamos preservar o meio ambiente, se não pela consciência da necessidade de proteger o planeta em que vivemos, pela questão econômica”, afirmou.
Em sua maior crítica a Bolsonaro, Leite mencionou ter sido no atual governo a maior desestruturação da área ambiental nos últimos anos e o maior desmatamento da Amazônia desde o início da série histórica.
Derrotado por Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018, Haddad citou a pandemia como o problema de resolução mais urgente no Brasil de hoje. De acordo com ele, a crise sanitária exigiu providências que nunca foram tomadas pelo governo.
“É responsabilidade de todos nós, neste evento, intensificar a pressão sobre o governo, sobretudo agora, com a CPI da covid-19. Quando o presidente é acusado de genocídio, ele não está sendo ofendido. Há dados objetivos que mostram que ele falhou neste grave momento.”
“O número de óbitos no Brasil é quatro vezes superior à média mundial. Infelizmente pessoas morreram não em função do vírus, mas da péssima gestão que se faz da pandemia”, disse ele, citando que o auxílio emergencial deveria se manter em R$ 600 até o término da campanha de vacinação. “Infelizmente, a maioria do Congresso votou para que fosse de R$ 150, que compra muito mais do que um botijão de gás.”
O ex-prefeito de São Paulo disse que a educação, a ciência e a tecnologia também devem ter prioridade diante dos índices insatisfatórios atuais. “No pós-pandemia, vamos ter um passivo educacional que não sabemos estimar e não há nenhum plano para recuperar isso a partir do momento que houver segurança para a volta às aulas”.
Haddad também citou ser necessário recuperar os investimentos em infraestrutura. “Sem isso, não teremos condições de enfrentar os desafios dos nossos competidores, sobretudo do sudeste asiático, e não vamos aumentar a competitividade na economia brasileira”. Para o ex-prefeito, o retrocesso ambiental do governo Bolsonaro também precisa ser contornado de forma urgente.
Doria foi o participante que mais apontou erros do atual governo. Ele elencou os dez pontos que considera mais necessários para o Brasil neste momentos, sendo as vacinas o primeiro deles. “O governo errou gravemente. Poderia ter comprado vacinas desde agosto e negou isso à população. Negou literalmente o direito à vida de milhões de brasileiros”.
O governador de São Paulo também disse que Bolsonaro destruiu o Sistema Único de Saúde (SUS), estimulou conflitos em um momento de crise, ameaçando inclusive cientistas. Em relação à educação, Doria disse que, com o atual governo, o Brasil retrocedeu em uma década.
Outros pontos citados pelo governador como prioritários foram a geração de emprego e renda, a redução das desigualdades e as políticas de meio ambiente. “Perdemos bilhões de dólares de investidores estrangeiros em razão do desinteresse do Brasil. Somos a pior referência mundial e estamos cumprindo um péssimo papel.”
Doria também mencionou que o respeito à democracia deve ter atenção especial. “Há um gabinete do ódio que, de Brasília, multiplica os ataques e ameaças a todos que se manifestam contra um governo genocida e que, por muito pouco, não colocou a democracia em questão.”
Por fim, Huck deixou claro que não falava como político, mas como membro da sociedade civil, e clamou que todos os presentes focassem nos aspectos em comum. “Nesse grupo, temos que deixar de lado as nossas vaidades e exercitar a humildade, porque, mesmo com um enorme potencial, o Brasil não deu certo.”
O apresentador disse que o país precisa de um projeto concreto. “No protagonismo da política atual, eu só enxergo discursos que veem o país pelo retrovisor e têm dificuldade de olhar para frente. E eu não acho que isso seja bom. Para curar feridas abertas, temos que ter novas ideias.”
“Precisamos pensar em um país que resgate a esperança das pessoas para valer, no sentido de reduzir nossas desigualdades abissais e de entender que o mundo é digital. Ainda temos um governo muito analógico, e é preciso tecnologia para todos. O país também pode e deve ser a maior potência verde, acabando com o falso litígio de que não dá para preservar o meio ambiente e desenvolver a economia ao mesmo tempo”, afirmou.
(Conteúdo publicado pelo Valor PRO, serviço de tempo real do Valor)
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Presidenciáveis em conferência — Foto: Reprodução
Presidenciáveis em conferência — Foto: Reprodução